Conferências

A cartilha comemorativa do bicentenário de Antônio Francisco Lisboa (Ministério Público e IEPHA)
Adalgisa Arantes Campos (UFMG) e Leandro Gonçalves Resende (UFMG)

Em parceira com o IEPHA e Ministério Público, elaboramos cartilha comemorativa ao Bicentenário da morte de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. O texto, sucinto e didático, apresenta a biografia do artista, aspectos sociais e artísticos do período, as características formais do mestre e respectiva oficina, conforme a orientação dada pelo método filológico, bem como a localização das principais obras.  Trata-se de trabalho paradidático, destinado aos alunos do Ensino Fundamental, todavia pautado na pesquisa histórica que coteja fontes documentais e obras artísticas, pesquisa de campo e bibliografia clássica, além, é claro, das recentes investigações pertinentes ao tema. Nessa oportunidade, esclareceremos as razões da escolha metodológica e do conteúdo.

 

Aleijadinho e o Aeroplano: paraíso barroco e a construção do herói colonial
Guiomar de Grammont (UFOP)

Leitura crítica de discursos de diversos gêneros literários e científicos que, desde o século XIX, produziram Antônio Francisco Lisboa , “o Aleijadinho”, mostrando  como o mito foi reapropriado em diversos programas da história do pensamento sobre artes e letras no Brasil. Nos séculos XIX e XX, foram propostas interpretações das obras atribuídas ao Aleijadinho, mobilizando noções raciais, ambientais, psicológicas, artísticas, políticas não documentadas no tempo do artífice. Através desse estudo buscamos realizar uma análise profunda sobre a construção nacionalista de uma imagem da “arte brasileira”, do século XVIII até a contemporaneidade.

 

O Aleijadinho Arquiteto e a circularidade cultural nas Minas Setecentistas
André Guilherme Dornelles Dangelo (UFMG)

A conferência pretende avaliar a formação da carreira do Aleijadinho dentro do ramo da arquitetura, seus mestres e influências culturais e fazer uma análise da sua produção entre 1763 ate 1810, quando ele faz seu último projeto que foi o da nova fachada da Matriz de Santo Antônio em Tiradentes.

 

A oratória sacra na América portuguesa
Valéria Penna Ferreira (UFVJM)

O concílio de Trento e o destaque atribuído à pregação. A formação do pregador e a retórica cristã. Definição e tipologia dos sermões. O sermão proferido e o sermão impresso. As funções sociais do sermão e o “bem comum” na América portuguesa.

 

Aleijadinho e a religiosidade do barroco mineiro
Glória Maria Ferreira Ribeiro (UFSJ)

A religião é a forma de expressão do sagrado e o espaço aberto por essa expressão distingue-se por completo do espaço profano – porque enquanto este é um espaço caótico e desorganizado, aquele se impõe como ponto de orientação e referência para as ações humanas. Daí o espaço sagrado surgir como o “centro do mundo” porque é dele que se irradiam e organizam as relações que o homem estabelece com a sua existência espiritual: “a teofania consagra um lugar pelo próprio fato de torná-lo ‘aberto’ para o alto, ou seja, comunicante com o Céu, ponto paradoxal de passagem de um modo de ser a outro” (ELIADE, 1992, p. 20). No Brasil Colônia, a religião era, a um só tempo, o veículo de transmissão de uma ideologia dominante e o ato de fundação, de consagração de um lugar: “Os ‘conquistadores’ espanhóis e portugueses tomavam posse, em nome de Jesus Cristo, dos territórios que haviam descoberto e conquistado. A imposição da Cruz equivalia à consagração da região e, portanto, de certo modo, a um ‘novo nascimento’. Porque, pelo Cristo passaram as coisas velhas; eis que tudo se fez novo (II Coríntios, 5:17). A terra recentemente descoberta era ‘renovada’, ‘recriada’ pela Cruz” (ELIADE, 1992, p. 22). É essa experiência religiosa de consagração de um lugar (experiência que implica a ruptura com o espaço e o tempo profano) que irá orientar a nossa reflexão sobre a produção artística de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho – notadamente o conjunto escultórico dos Passos e dos Profetas de Congonhas. O interesse pelo aspecto artístico dessa obra se confunde com o aspecto religioso porque, segundo Oliveira, esta “obra deveria tornar-se um “verdadeiro ‘Sacro Monte’, segundo a tradição europeia, iniciada na Itália do século XVI e logo transformada em um dos principais temas da cenografia religiosa barroca” (OLIVEIRA, 1984, p.113). Por outro lado, esse conjunto escultórico, ao se organizar num monte, revela um dos aspectos mais contundentes da experiência do sagrado, isto porque para Eliade “a montanha figura entre as imagens que exprimem a ligação entre o Céu e a Terra; considera-se, portanto, que a montanha se encontra no Centro do Mundo” (ELIADE, 1992, p.25). Compreender o modo como Aleijadinho concebe e realiza o conjunto escultórico de Congonhas explicita como o artista realiza a sua própria fé, ao consagrar o monte como o lugar de exposição e comemoração da paixão de Cristo. Segundo Oliveira, “Aleijadinho deixaria registrada, nas magníficas representações do Deus feito Homem que integram os diversos grupos de Passos, a lição permanente da espiritualidade barroca: a redenção do homem pecador pela ascese do sofrimento” (OLIVEIRA, 1984, p.113). Sofrimento e dor que marcaram tanto o corpo de Antônio Francisco Lisboa, como a trajetória da sua vida como artista. Dor transubstanciada em arte.

 

Enganar o olho e provocar os sentidos: a falsa arquitetura na decoração de Manuel da Costa Ataíde
Magno Moraes Mello (UFMG)

Este estudo concentra seus esforços no exame da pintura de falsa arquitetura na Capitania do Ouro entre os séculos XVIII e XIX, considerando os períodos do tempo do Barroco e do Rococó. A pintura de tetos nesta capitania variou desde os caixotões com cenas hagiográficas; cartelas com grandes rocalhas no cimo do suporte abrigando a iconografia principal; muros parapeitos as vezes bidimensionais que circundam o assunto central; histórias contadas em espécies de nuvens circulares envolvendo o tema principal; até a representação de maciças membranas arquitetônicas construindo espacialidades verticais dando maior dinamismo ao ambiente interno dos templos. No ponto mais alto do suporte podem apresenta-se cartelas em forma de rocalhas ou apenas o tema historiado frontalmente ao fruidor num grande quadro fictício. Para um melhor e mais apurado conhecimento destes tetos que simulam espacialidades arquitetônicas é fundamental o conhecimento dos textos científicos que, em certa medida, ensinam ou instruem ao artista modelos iconográficos e práticas perspécticas para a produção destes suntuosos ambientes decorativos. Muitos pintores eram verdadeiros quadraturistas ou cenógrafos especializados na decoração do engano arquitetural. Outro ponto a salientar é a especialização dos trabalhos. Em Minas, como no Brasil colonial (e também em toda a Europa), muitos decoradores eram apenas pintores de figuras ou de elementos decorativos, enquanto outros trabalhavam com mais precisão na confecção (e idealização) da estrutura arquitetônica pictórica. Não podendo esquecer as técnias de transposição dos modelos em papel numa escala reduzida para o intradorso das abóbadas que exigiam, para além do grupo de artesãos e ajudantes, hábeis preparadores de cena com amplas noções das práticas da perspectiva e conhecimentos cenográficos. É neste contexto que assistimos a produção quadraturista do pintor-decorador Manuel da Costa Ataíde. Sua atividade como perspéctico ocorreu de modo mais sistemático a partir do princípio do século XIX. Seu modelo interpretativo e suas disposições perspécticas são ainda pouco estudadas, mas apresentam um significativo impacto visual em todo o universo do Rococó no Brasil colonial. Conhecer e entender a sua obra nos diversos tetos pintados é um dos objetivos desta comunicação.

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